segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Cante se souber!!


Cante, mesmo sem saber, desafinado.

Cante de qualquer jeito,

Qualquer música.

Mesmo que tenha que intercalar com uns nan,nan,nans, ou lá, lá,lás.

Cantem amigos e amigas, vamos lá, experimentem.

Eu vi um menino correndo,

Eu vi o tempo brincando ao redor do caminho daquele menino...lá,lá-lá...

Cante, deixe a vida escorregar entre suas cordas vocais,

Em melodias geniais.

Cante mesmo sem saber, cante.

Confesso que vivi - Viagem 2


Você já ouviu falar de uma cidade chamada Água Verde lá no Ceará? Foi lá minha segunda aventura na infância.

Contava-se uma lenda de certo monstro que habitava as águas daquele lugarejo, talvez uma versão tupiniquim da lenda européia. Mas o bicho da Água Verde, dizem, era um Jacaré, mas sabe-se lá...

Eu me lembro, o tio Geraldo casado com a tia Lôlo, passou em nossa casa com sua Rural verde e branca e lá fomos nós. O carro super apertado. Eu no colo da mamãe. Acho que passados vinte minutos de estrada eu já estava dormindo, quando acordei já estava bem pertinho segundo meu pai, pois de cinco em cinco minutos na minha ansiedade eu o perguntava: "- Já tá perto?"," - Tá bem pertinho", dizia ele pacientemente.

Ao chegarmos na casa do tio Leão, foi uma farra. Cearenses que se encontram depois de algum tempo sempre fazem festa.

Algumas manguitas depois, fomos para o rio tomar banho e pescar. Depois de muita brincadeira, as pessoas foram saindo. Enfim, fiquei só com minha vara de pescar sentado em um pedra. De repente, algo belisca meu anzol. Seria um peixe ou seria o bicho da Água Verde? Meu coração acelerou. Fiquei de pé e comecei a puxar a linha, depois de brigar muito com minha dúvida, consegui puxar o danado. Não era o bicho, mas algo que para mim , menino de nove ou dez anos, foi aterrorizante, um mussum enorme (pescador que é pescador não pega peixe pequeno). Saí correndo e deixei lá a vara e aquela coisa preta que eu não sabia o que era.

Foi inesquecível, viajar para Água Verde com a 'familharada', passear entre as árvores e brincar com meus amigos lá.

Fiz muitas outras viagens na infância, não eram longas, mas verdadeiras aventuras na minha fantasiosa mente. Viajei na carretinha de uma lambreta com meu pai e um corretor de imóveis que queria vender um terreno para o papai. Viajava para o Eusébio com o padre Jessé e a meninada do Santo Inácio para jogar bola. Que farra! Depois do jogo, o padre nos vendia caldo de cana.

Confesso que vivi! Eu era feliz e nem sabia!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

CONFESSO QUE VIVÍ - Minhas Viagens 1


Como fui feliz na minha infância. Fui o menino mais feliz que já viveu nesse planeta!

Meu pai era um trabalhador pobre, pequeno comerciante sonhador. Éramos (ainda somos) cinco irmãos. O sonho de papai era ver os filhos doutores, e trabalharia para isso.

Eu nem sabia o que era ser doutor.

Chamavam-me carinhosamente de Cilinho. Tinha uma madrinha que se chamava Ana. Eu a chamava tia Aninha. Acho que não existia pessoa mais linda e mais atenciosa na face da terra.

Eu tinha amigos: Joca, Ferrer, Alexandre, Cândido, Marquinhos, Adalto, Neguim... Tinha as meninas, Rivanda, Simone, Ivone( era a preferida morava num castelo na esquina da minha rua, na Padre Luís filgueiras, 251 em Fortaleza).

Minha família era muito grande quinze tios por parte de pai e seis por parte de mãe. Imagine, quantos primos e primas! Só uma tia (a tia Tereza teve quinze), acho que queria competir com minha vó Alice.

Minha primeira viagem, pelo menos na memória, foi para um distrito de Fortaleza chamado Messejana. Lá na casa dos tios Miguel e Otalice. Naquele tempo era uma casa enorme com quadra de futebol e tudo. Em Messejana ficava a casa de José de Alencar, o grande escritor Cearense, visitei essa casa cheia de mistérios para um menino como eu. Viajava com alguns personagens de seus livros em minha imaginação. Gostava de tomar banho na lagoa de Messejana, de "boiar" numa linda bóia de câmara de ar de carro (se fosse de caminhão era melhor ainda).
A casa dos meus primos Ricardo, Nenem, Guto, Reinaldo, Miguel Angelo e primas Cecília, Eunice, Cleo, Tissinha, era alí, em frente a matriz. Eu ia passear pelas calçadas da praça, comer pipoca e algodão doce, eu era faliz e sabia...

Eu não sabia que era pobre e nem o que era pobreza, apesar de nossa condição social. Eu era muito feliz.

Brincava de carrinho rolemã, fabricado por nós mesmos. Tinha imaginação suficiente para transformar uma lata de leite num Sinca, ou num Fusca. Não tinha dinheiro para comprar bola, mas roubava as meias do papai para fazer bola e com os protestos de mamãe e o consentimento dele nós íamos fazendo nossos gols.

Essa foi minha primeira viagem. Messejana onde voltei muitas vezes para me banhar nas águas de Alencar e encontrar Iracema, a bela índia em minha imaginação infantil.
Messejana, quinze quilômetros de Fortaleza, no ônibus da empresa Cruzeiro que partia do Pq. das crianças com porcos, galinhas e outros bichos. Era tão longe pro Cilinho, hoje é só um pulinho. Meu pai era quem me embarcava no ônibus, que percurso gostoso do Bambulê lanches (o café do meu pai) até o Pq. das crianças, meu herói segurando em minha mão, fazia recomendações ao motorista e acenava, com olhos bilhantes quando o ônibus partia. Sentia-me amado e nem sabia o que era amor. Nunca esquecerei sua mão, seus olhos e seu sorriso.
Como era bom pronunciar papai, e ouvir mamãe pronunciar Patrício - o nome de meu bom pai.

Confesso que vivi! Eu era feliz e sabia...
Messejana?! Ainda é uma viagem gostosa. Lá como tapioca de todos os sabores com um cheiroso café e encontro sempre um amigo feito nessa caminhada que já dura quarenta e oito anos.
Cofesso que vivi!